CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO

ALTA FREIA INFESTIMENTO

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A alta da taxa básica de juros do país, a Selic, está sendo interpretada pelo mercado como um indicador de que o governo federal escolheu a sua maneira de lidar com a inflação: ao invés de cortes nos gastos públicos, optou pela elevação dos juros, o caminho mais fácil para União, mas que na ponta pode impactar na redução de investimentos e consequentemente, de emprego, renda e consumo.

Depois de quase dois anos no menor patamar registrado no país, a sinalização de que a taxa reinicia uma trajetória ascendente traz à tona um velho sentimento, entre empresários, que em nada ajuda na meta de expansão econômica para este ano: a cautela, como avalia o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL/Cuiabá), Paulo Gasparoto. “Está claro que o governo federal não vai medir esforços para controlar a inflação via redução de consumo, sendo este um caminho difícil e que desenha um cenário de alerta, afinal, não podemos conviver com uma inflação de 7% ao ano e um crescimento econômico pífio, próximo de zero. De fato, a União está numa encruzilhada, mas infelizmente resolveu pegar o caminho mais fácil”.

Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 7,5% ao ano. O último reajuste havia ocorrido em julho de 2011, quando o Copom elevou os juros básicos de 12,25% para 12,5% ao ano. No mês seguinte, a Selic começou a ser reduzida sucessivamente até atingir 7,25% em outubro de 2012, o menor nível da história. Desde agosto de 2011, a Selic caiu 5,25 pontos percentuais.

O presidente da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt), Jandir Milan, toda vez que os juros sobem, ou sinalizam esta tendência, há uma migração de recursos dos investimentos para as aplicações financeiras. “Juros em alta fomentam a especulação no mercado, desviando o dinheiro que seria empregado em algum tipo de bem, por exemplo, e que poderia gerar empregos e renda e sustentar o consumo”. Em outras palavras, como reforça o dirigente, a alta atual de 0,25 pontos percentuais (p.p.) pouco influencia hoje na dinâmica do mercado, “no entanto, a sinalização de que novas altas podem vir, acarreta um efeito psicológico onde os investidores começam a migrar o capital e os empresários a frear e reter investimentos. Especulação não agrega nada a nossa economia”, sentencia. Ainda como completa, “em suma, a elevação da taxa de juros não é um bom parâmetro e preocupa pela inversão do cenário, afinal, vínhamos de quase dois anos de taxa no menor patamar histórico e pode há indícios de que a ascensão está apenas começando”.

Como frisa Gasparoto, a alta é sempre uma medida ortodoxa. “O percentual de correção em 0,25 p.p. praticamente não traz impacto imediato, mas vai afetar as vendas de segmentos do varejo que necessitam de financiamentos para comercializar seus produtos, como móveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e veículos, por exemplo”. Questionado se a nova taxa pode atrapalhar o segundo melhor momento do calendário comercial – após o Natal – o Dia das Mães, o dirigente frisa que não, visto que boa parte do varejo influenciado pela data registra em média um ticket de vendas entre R$ 70 e R$ 80. “Não são presentes casados com financiamentos”.

REPERCUSSÃO – Como reforça o economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de Mato Grosso (Corecon/MT),

Ernani de Souza, um dos objetivos da política monetária executada pelo Banco Central é o controle da inflação, mas a elevação “atropela o estímulo aos investimentos e à formação de poupança pública e privada”. Como argumenta, “olhar para seus gastos {o governo federal} seria um caminho mais prudente por parte da União. Ainda não estamos acordando o dragão adormecido da inflação. Os preços não estão em alta persistente e generalizada, mas, se o leviatã gastador não for domado, voltaremos à estaca zero”.

Como explica, a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) remunera os títulos públicos federais quando o governo vai em busca de recursos para se financiar. O percentual dessa taxa de juro é observada pelo mercado e por isso, sua repercussão é elevada a toda economia. “Em vista da crescente alta dos preços em percentuais relativamente baixos, porém, preocupantes, principalmente, nos alimentos – o caso recente do tomate que é uma exceção devido ao choque de oferta, que difere de inflação persistente – todavia, em geral, desde a estabilidade de 1994 os preços tiveram seus aumentos por uma causa ou outra, pode-se dizer reacomodação dos preços relativos. Entretanto, o aquecimento atual da demanda, com baixo crescimento econômico tem exercido uma forte pressão sobre os preços, o que resultou na elevação da taxa, o que poderá resultar em mais inflação devido seus efeitos propagadores junto ao mercado financeiro via a própria Selic”.

 

Fonte: Diário de Cuiabá / Mariana Peres  da Editora

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